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Joan Bennett, a “coisa embrulhada em celofane”

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Por Christian Viviani. Joan Bennett não foi uma estrela. Mas se podemos ler sua carreira como uma série de encontros perdidos com o verdadeiro sucesso público, ela foi, em certo sentido, mais do que uma simples estrela: uma epifania fulgurante, que o sucesso popular desprezou, mas que alguns dos maiores cineastas europeus de Hollywood conseguiram milagrosamente capturar em sua trajetória. Nascida em 1910, estreando no cinema em 1928, Joan Bennett vem de uma família de atores. Seu pai é o célebre e excêntrico Richard Bennett, que Orson Welles transformou no patriarca Amberson. Suas irmãs são a brilhante e espirituosa Constance, a primeira heroína de Cukor, e a mais obscura Barbara. Joan surge a princípio como uma versão mais popular da sofisticada e mundana Constance: a mesma loira espumosa alisada com brilhantina, o mesmo perfil delicioso, a mesma silhueta impecável. No entanto, Joan não aposta na ostentação do figurino ou na alusão assassina. Sua aparência refinada, quase virginal, el...

Cineclube Sganzerla apresenta: Qual a Cor da Mentira?

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Entre os dias 19 de outubro e 2 de novembro, o Cineclube Sganzerla apresentará ciclo de filmes cujas narrativas, que giram em torno do casamento, ressaltam a especificidade do cinema em espelhar as zonas acinzentadas do que é verdadeiro. A programação, intitulada Qual a Cor da Mentira? , é composta por títulos de cineastas como Claude Chabrol e Rainer Werner Fassbinder, além de uma sessão dupla dedicada a Joan Bennett, atriz de Fritz Lang, mas também de Jean Renoir. Os encontros virtuais serão realizados via Google Meet, nos domingos 19 e 26 de outubro e 2 de novembro, a partir das 16h. Clique aqui e inscreva-se para participar . Leia abaixo o texto de apresentação da curadoria: Qual a Cor da Mentira? Por Ezequiel Silva. Depois de Jean-Luc Godard afirmar que o cinema é a verdade 24 vezes por segundo, o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder teria dito que o cinema é a mentira 24 quadros por segundo. Não se trata de escolher entre um e outro, de descobrir quem está certo ou errado, m...

Violência e silêncio em Killer of Sheep (1978)

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Eu vou começar este comentário pelo começo, para não correr o risco de me perder. Na primeira cena de Killer of Sheep , vê-se representada uma certa brutalidade masculina no modo como o pai coloca o filho contra a parede, intimando-o, dizendo ao garoto que ele deve resolver os problemas com agressão, ou seja, na base da força. Em seguida, tem-se uma sequência na qual crianças, até onde pude ver majoritariamente meninos, arremessam pedras uns contra os outros, esbofeteiam-se e rolam no chão como se estivessem travando uma batalha. A lógica impressa pela montagem me é bastante direta: eles, os filhos, ouviram os pais. Não se confunda, leitor: os sujeitos estão todos no masculino. Abre-se, a partir daí, uma chave de leitura possível para o longa-metragem de Charles Burnett, cuja atenção se volta à maneira como as diferentes formas de violência, perpetradas contra o coletivo que é registrado, serão, enfim, reproduzidas. Se o comportamento das crianças é reflexo do comportamento dos pais, p...

Cineclube Sganzerla apresenta: A Conversa Invisível

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O Cineclube Sganzerla apresentará entre os dias 17 e 31 de agosto um ciclo de filmes sobre intimidade negra. A programação, intitulada A Conversa Invisível , propõe um diálogo acerca da memória e um passeio no território do afeto em cinematografias de cineastas como Charles Burnett, Edward Owens, Isaac Julien, Kathleen Collins, entre outros. Os encontros virtuais serão realizados via Google Meet nos domingos dias 17, 24 e 31, a partir das 16h. Clique aqui e inscreva-se para participar .  Leia abaixo o texto de apresentação da curadoria: A Conversa Invisível Por Misael. Há gestos que o mundo não ensina a ver. Há palavras que só se pronunciam com os olhos, com o toque, ou com um silêncio partilhado. Este ciclo de filmes — de Edward Owens a Charles Burnett, de Isaac Julien a Kathleen Collins — compõe uma travessia pela intimidade negra como prática de invenção e resistência. São retratos de relações amorosas, de vínculos familiares e de encontros consigo mesmo, onde a câmera não busca...

Notas sobre Twin Peaks: The Return

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  A incandescente destruição Twin Peaks: The Return, ep. 8, 2017 Por Philippe Fauvel. Uma explosão atômica, o efeito corona de um campo elétrico, fluxos e chiados aliados à intensidade da música de Krzysztof Penderecki, Trenodia às Vítimas de Hiroshima . Em 16 de julho de 1945, no parque White Sands, em Novo México, ocorreu um teste de explosão nuclear. Nós avançamos sobre o cogumelo atômico, o penetramos. O casamento Penderecki-Lynch é aterrorizante, absolutamente trágico. Surge então um feixe de estilhaços em preto e branco, a imagem e o som ressoam mutuamente: as notas sustentadas, seus estridentes e os agudos de todas as cordas riscam a tela. Como gritos num desenho, como arranhões sonoros. Um fundo de grafite insondável e essas nitescências em negativo, e toda a dor do mundo que devasta a alma. Os seres maléficos com rostos carbonizados que povoam a terceira temporada, essas pequenas mãozinhas de lenhadores que se intrometem e fazem o trabalho sujo, explodem crânios ou mancham...

Acerca de A Marca da Forca (1968)

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A Marca da Forca ( Hang ‘Em High , 1968) pode não ser um filme tão bem resolvido — o que passa tanto pela direção de Ted Post quanto pelo trabalho dos roteiristas Leonard Freeman e Mel Goldberg, que, até onde pude ver, não tiveram uma carreira expressiva em Hollywood. Todavia, também por se tratar de um dos primeiros, senão o primeiro, faroeste protagonizado por Clint Eastwood depois da experiência na Itália com a célebre trilogia de faroestes espaguetes de Sergio Leone, algumas questões a respeito do gênero e da persona construída por Eastwood impõem-se no relevo desse campo ainda tão arredio. Eu estava comentando com um amigo, dias atrás, como a obra de Clint enquanto diretor gira em torno das sombras. A estética não explora tão somente o contraste expressionista dos cenários, como também as veias do rosto embrutecido pelo tempo, suscitando assim a carga e o peso dramático acumulados ao longo dos anos como ator — muitas vezes, e talvez mais intensamente, em seus próprios projetos¹....

Cineclube Sganzerla apresenta: Não Mais Haveremos de Suportar

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O  Cineclube Sganzerla  apresentará entre os dias 1º e 8 de junho o ciclo Não Mais Haveremos de Suportar , o qual coloca em perspectiva o conceito de gnose com cinematografias de cineastas como Christopher Maclaine, Jack Chambers, Robert Aldrich e Stan Brakhage.  Os encontros virtuais serão realizados via Google Meet nos domingos dias 1º e 8, a partir das 16h.  Clique aqui e inscreva-se para participar . Leia abaixo o texto de apresentação da curadoria: Por Giovanni Silveira. A gnose, neste contexto, é compreendida a partir de um recorte específico: a realidade permanece como uma prisão — frágil e imperfeita — e, para excedê-la, é necessário buscar uma certa luz. Os bilhões de átomos que constituem a percepção e a matéria já não correspondem plenamente aos significados que lhes são atribuídos pela linguagem. Eles excedem os limites da consciência que temos deles e são feitos de armadilhas. A esses filmes cabe, portanto, aceitar, buscar ou recusar a centelha de ...