PREMINGER (Otto)



Por Jean Wagner.

Isso foi na época em que Preminger ainda não estava envolvido com as grandes máquinas: ele realizou filmes que passaram praticamente despercebidos e a produção americana não daria muita importância a esse diretor que, infelizmente, sabia o que queria.

Se pelo menos Preminger tivesse continuado a ser o homem sensível de O Rio das Almas Perdidas. Se ele pudesse conservar aquele senso de vibração que ainda encontramos intacto em Exodus, mas que, depois disso, desapareceu completamente. A fascinação premingeriana que foi a fonte de tantos elogios jamais foi tão evidente quanto nessas crônicas agridoces, nessas longas e lentas marchas de um homem para uma mulher ou de uma mulher para um homem, Laura, Alma em Pânico, O Rio das Almas Perdidas, Bom dia, tristeza.



O Rio das Almas Perdidas
é a maravilhosa combinação química de Robert Mitchum, Marilyn Monroe e o rio que não cessa de ritmar esse romance aveludado. O rio que, na época, assumiu uma nova dimensão graças ao formato que ninguém, antes de Preminger, havia sido capaz de descortinar as suas possibilidades, o cinemascope.

É de se lamentar que Preminger tenha dirigido apenas um western, porque nesse espaço borbulhante ele conseguiu deslizar aquele tipo de desencanto singular que vem diretamente daquele canto da Europa onde Preminger veio à luz. "O amor é o viajante do rio sem retorno", diz a canção do filme. Nessa aventura de um homem e uma mulher que completam seu aprendizado sobre as águas furiosas, Preminger inscreveu tanta ternura e tanto pudor que quase esquecemos que o personagem principal não é outro senão a torrente, fotografada como nenhuma outra torrente jamais foi. 

Por fim, mas não menos importante, Preminger deu à Marilyn, esse mito, o único papel de sua carreira.

PREMINGER (Otto) foi originalmente publicado em BELLOUR, Raymond (Org.) Le western: Approches - Mythologies - Auteurs – Acteurs – Filmographies. Paris Gallimard, 1993 (pp.285-286). Tradução: Ezequiel Antônio da Silva Stroisch.


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