Atrás do jornalismo cultural, com Paulo Arenhart

“O jornalismo cultural está morto. Mas isto não significa que não possa ressuscitar”, afirmou o jornalista Paulo Arenhart, em resposta a perguntas encaminhadas por e-mail. Ex-secretário de Cultura e Comunicação Social de Santa Catarina, Paulo é o primeiro convidado do projeto Atrás do jornalismo cultural, o qual pretende a partir das percepções de profissionais da área refletir acerca carência de coberturas culturais nos veículos de comunicação.

Paulo Arenhart. (Foto: Arquivo pessoal)

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Arenhart atuou ainda em outras instituições públicas, como Fundação Catarinense de Cultura, Secretaria de Comunicação Social do Município de Florianópolis e Assembleia Legislativa de Santa Catarina – na qual se aposentou por tempo de serviço, após 38 anos de contribuição. No setor privado, trabalhou no Grupo SCC e também no Jornal Notícias do Dia. Ao longo de sete anos, editou a Revista Cartaz – Cultura e Arte, impresso que circulava nas três capitais do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

A escolha de entrevistar Paulo se deu por um acaso. Isso porque em 13 de agosto deste ano, dois dias depois de estrearmos o Falando Cinema, nos deparamos com um texto dele no Facebook que começava com a seguinte sentença: “O jornalismo cultural acabou”. Junto com a publicação, havia a fotografia de uma pequena matéria sobre cultura veiculada em uma edição deste ano do jornal Diário Catarinense, periódico de maior expressão em Santa Catarina. Na postagem, ele também lamentava que os assuntos relacionados à cultura não eram mais difundidos em cadernos específicos. Naquele momento, decidimos que deveríamos convidá-lo a participar da primeira entrevista do projeto.

Publicação de Paulo. (Imagem: Reprodução/Facebook)

Falta de financiamento

Para o jornalista, diversos fatores contribuem para o empobrecimento das coberturas culturais nos veículos de comunicação. A crise financeira que atingiu as empresas, sobretudo depois das alterações ocasionadas pelas mídias digitais, pode muito bem ser um desses motivos. Paulo observa que a partir do momento no qual surgem os problemas de falta de recursos, as primeiras consequências negativas ocorrem na área cultural. Isso acontece nas empresas privadas, na política e também nas famílias. Projetos, programas de incentivo e secretarias são cortados, bem como os passeios aos museus, teatros ou cinemas. A propósito, foram os problemas financeiros que levaram ao encerramento da Revista Cartaz – Cultura e Arte, a qual contou com 31 edições. No início, eram lançadas quatro publicações por ano, mas depois o número foi reduzido para duas ou três, até o negócio se tornar "comercialmente inviável".

Capa da primeira edição da Revista Cartaz – Cultura e Arte. (Foto: Paulo Arenhart)

A falta de financiamento provocou demissões em massa nas empresas, fazendo com que os veículos priorizassem setores de maior vendagem, tais quais política, futebol, economia, colunas sociais, entre outros. Arenhart lamenta que a cultura, portanto, ficou para trás. Além disso, concorda que o jornalismo cultural em todo o país parece ter se transformado em um simples anunciante de espetáculos, exposições e lançamentos. Segundo o ex-secretário de Estado, não há mais espaço para reportagens, entrevistas, artigos ou uma agenda cultural completa. Não à toa, os editores têm trabalhado cada vez mais com materiais entregues por assessorias de imprensa.

"Também temos que levar em consideração que o fim do jornalismo cultural pode ser ainda uma consequência de uma sociedade empobrecida educacional e culturalmente. Os avanços das ideologias de direita no mundo todo, colocam o saber, a arte e a cultura sempre em último plano, na esperança da constante manipulação política das massas populares", enfatizou Paulo.

Superação

A máxima “se não pode contra elas, junte-se a elas”, para o jornalista, não funciona muito bem quando o assunto é a carência de coberturas culturais. De acordo com Arenhart, até agora, as mídias sociais não conseguiram absorver as demandas do setor. Os espaços são diminutos e breves, uma vez que quase nada pode ser aprofundado no Twitter, no Instagram, no Facebook, ou em outros aplicativos. Um elemento que ajuda a ilustrar essa crise é o fato dos sites estruturados nos últimos dez anos não terem prosperado.

Conforme destacou Paulo, o maior problema não se encontra nos impactos da revolução tecnológica no meio, mas na falta de financiamento para manutenção dos serviços. Tanto que nem as grandes empresas conseguem sobreviver somente da renda gerada pelas páginas eletrônicas.

“Os problemas e as soluções, todas, passam pelo financiamento”, reforçou o ex-secretário de Estado. Nessa perspectiva, ele acredita que o trabalho para ressuscitar o jornalismo cultural deve se concentrar na busca por novas formas de financiamento destes projetos, o que passa pela "recuperação da nossa economia e também pela superação das barreiras políticas impostas por regimes nem tão democráticos como o nosso".

Comentários

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