Atrás do jornalismo cultural

O Falando Cinema foi criado com o intuito de suprir uma carência dos veículos de comunicação mais populares de Florianópolis. A falta de suplementos sobre jornalismo cultural nesses periódicos motivou o surgimento de um blogue que atendesse a demanda, mais especificamente por meio da cobertura do circuito cinematográfico e cinéfilo da ilha de Santa Catarina. Tendo em vista a existência do problema que deu origem ao nosso espaço, publicaremos uma série de entrevistas com profissionais da área para refletirmos a respeito da questão. Este texto marca o início do projeto, intitulado Atrás do jornalismo cultural.

Quadro do filme Jejum de Amor, de Howard Hawks. (Créditos: Claridge Pictures/Photofest)

A ausência de jornalismo cultural nos veículos de comunicação não é um problema exclusivo de Santa Catarina, infelizmente é um caso presente em parte da imprensa brasileira – por mais irônico que seja empregar o termo "presente" nessa sentença. Para o jornalista Marcelo Bortoloti – que é mestre em Artes pela Universidade Federal Fluminense e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –, os cortes nas editorias de cultura podem ser resultado da fala de interesse do público, verificada pela contagem de acessos em determinadas matérias publicadas na internet. Dessa forma, os veículos ocupam-se com os temas mais buscados, tais quais política, esportes, celebridades, entre outros.

"É sintomático, por exemplo, que num site de grande audiência como o UOL, a editoria de cultura tenha sido substituída pelo selo 'entretenimento'", observa o jornalista, em artigo publicado na Revista Museu. As páginas eletrônicas de alguns dos principais veículos de comunicação de Santa Catarina fizeram essa mesma substituição:


No ND Mais, encontramos a editoria de entretenimento no menu principal.




Também vemos o caminho para a editoria de entretenimento, logo depois de outras mais buscadas, no menu do NSC Total.




No Hora de Santa Catarina, notamos a editoria depois da seção falando sobre sexo.







Antes fosse apenas uma mudança semântica, a qual envolvesse a troca de uma palavra por outra. No entanto, o próprio conteúdo da editoria sofreu alterações nos últimos anos. Conforme analisa a jornalista Mariana Ramos Pimentel – Especialista em Comunicação Digital pela Faculdade Cesrei –, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, o jornalismo cultural atualmente "mudou seu conceito inicial, suas características e funções, já que a sua abordagem é superficial e sua divulgação se restringe a shows, eventos culturais, atividades artísticas e entretenimento". "É a divulgação de um lançamento de livro que não possui um perfil do escritor, são exibições de filmes que não veiculam uma resenha e uma análise crítica", exemplifica.

Os jornalista não apenas alertam para a carência de jornalismo cultural nos veículos de comunicação, mas também discorrem acerca de soluções para o problema. Bortoloti entende que falta espaço para assuntos mais complexos nas editorias, por isso é importante oferecer boas histórias aos editores e criar um discurso atrativo ao público. Já Mariana defende a necessidade do jornalista produzir matérias de qualidade e explorar as tecnologias a fim de elaborar novas possibilidades de trabalhar as manifestações culturais.

Em todo caso, diante dessa situação, percebemos a indispensabilidade de trazer a discussão para a rotina de publicações do Falando Cinema. Nos próximos updates, portanto, lançaremos uma série de entrevistas com a intenção de aprofundar ainda mais a reflexão iniciada nesta primeira parte do projeto Atrás do jornalismo cultural. Vale lembrar que as publicações relativas ao cinema continuarão normalmente.


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