Lifechanger (2018) – Quais os limites da nossa empatia?

Os filmes – nem todos, claro – são muitas vezes obrigados a fazerem com que o espectador sinta empatia pelos objetos em cena. Isso faz-se ainda mais necessário quando os efeitos dramáticos da obra dependem das ações dos personagens de uma determinada narrativa. A tarefa de estabelecer a identificação do público com o universo ficcional já foi exercitada de diferentes maneiras no cinema de horror. Em uma obra como Lifechanger, exibida em Florianópolis no último domingo (19), os limites da nossa empatia são brutalmente questionados.

(Imagem: Reprodução)

Escrito e dirigido pelo canadense Justin McConnell, esse longa-metragem acompanha uma criatura chamada Drew, a qual precisa apoderar-se de outros corpos humanos para sobreviver. No momento em que ele habita um novo corpo, este começa a apodrecer, fazendo com que Drew transmute incessantemente – deixando um rastro de cadáveres pelo caminho. Conhecemos ao todo cinco versões da criatura, as quais compartilham uma única coisa em comum: o interesse amoroso por uma escritora que frequenta o mesmo bar todos os dias.

Sentir empatia por alguém tão perverso quanto Drew pode ser algo imoral. Talvez por isso o diretor opta por empregar no filme constantes narrações do personagem, estabelecendo um diálogo direto com o espectador. Dessa forma, quando a aparência física da criatura é alterada, não estranhamos a mudança. Essa relação também é fortalecida pela situação de vulnerabilidade na qual o protagonista se encontra, devido ao aumento na velocidade de decomposição dos novos corpos.

(Imagem: Reprodução)

O enredo dificulta a luta de Drew pela sobrevivência ao impor uma série de desafios para as representações assumidas pelo personagem. A primeira mulher tem a necessidade de tranquilizar o marido preocupado com o fato dela ter sumido por três dias. O detetive Ransone precisa se livrar de dois cadáveres. O dentista, vejamos, tem de atender um menino – sequência na qual, para a tranquilidade de todos, o protagonista responde "está não é a primeira vez que sou dentista". A segunda mulher, Rachel, é obrigada a fugir de policiais. Finalmente, depois de conquistar a confiança da escritora, Robert deve contar toda a verdade para ela.

Esses obstáculos reforçam a nossa estima pela criatura. Entretanto, na medida em que as diferentes representações de Drew interagem com a escritora naquele bar, acabamos construindo uma identificação com ela também. Será por meio de um conflito entre o protagonista e a personagem que Lifechanger questionará de forma brutal os limites da nossa empatia. Afinal de contas, indagamos: quem deve se sobressair dessa situação?

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