Cinema brasileiro é destaque no segundo dia do Floripa Que Horror

A criatividade do cinema brasileiro foi posta em evidência no segundo dia do Floripa Que Horror. Isso porque oito curtas-metragens nacionais foram exibidos para dezenas de espectadores que lotaram a sala de cinema do Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, na mostra competitiva desta sexta-feira (16). O evento selecionou filmes de cinco estados do país: sendo um catarinense; um gaúcho; um cearense; um baiano; e quatro paulistas.

Comédia Dead Teenager Séance animou o segundo dia do Floripa Que Horror. (Imagem: Reprodução/Vimeo)

Se escrever a respeito de um longa-metragem como Casa de Sudor y Lágrimas sem o intervalo de tempo adequado para assimilar a experiência de vê-lo foi uma tarefa complicada, imagem comentar sobre cada um dos oito filmes exibidos ontem à noite – mesmo tratando-se de curtas-metragens, adiando que todos apresentaram camadas a serem abordarmos com atenção. Existem muitas maneiras de discorrermos acerca dessas obras, mas optamos por seguir conforme a ordem de exibição definida pela curadoria do festival.

Portanto, começamos pela animação catarinense Almofada de Penas, do diretor Joseph Specker Nys. Realizada em stop motion, a adaptação de um conto do escritor uruguaio Horacio Quiroga traz os personagens Alicia e Jordão, um casal abastado que sofre com o fato da mulher estar acometida de uma anemia aguda irrecuperável. O filme sugere problemas maiores entre os dois e sustenta um olhar crítico em relação ao matrimônio, sobretudo no que diz respeito as inerentes amarras dessa união.

O segundo curta-metragem programado, Uterus, é um torture porn gaúcho bem produzido. Só isso mesmo. A tentativa do diretor Pedro Antoniutti de extrair emoção da pirotecnia é falha. Tanto a humanização do carcereiro, quanto a revolta do prisioneiro não têm espaço para gerar empatia.

Décor do musical O Bosque dos Sonâmbulos impressiona. (Imagem: Reprodução/Youtube)

Dos filmes exibidos ontem à noite, O Bosque dos Sonâmbulos é um dos mais curiosos. O trabalho do diretor Matheus Marchetti é espalhafatoso quanto a utilização das cores e figurinos. Além disso, há um cuidado na ocupação dos espaços nos números musicais, apesar deles não apresentem coreografias complexas.

A quarta exibição trouxe o celebrado Dead Teenager Séance, de Rodrigo Gasparini e Dante Vescio, de longe o curta-metragem que melhor conversou com o público. Os diretores utilizam uma chave cômica e personagens caricatos para tratar de uma questão pouco explorada: o que acontece com os jovens assassinados nos slashers? Eu não via um filme de gênero tão criativo e divertido desde Pânico, do Wes Craven, o qual eu conheci mês passado. Aposto todas as minhas fichas que ele levará o prêmio da mostra.

Em seguida, foi a vez de Pop Ritual, curta-metragem cearense que acompanha o relacionamento entre um padre e um vampiro. É um filme sem concessões, sem diálogos, mas muito arrojado. O contraste entre os corpos, assim como a aproximação ocasionada por uma especie de síndrome de Estocolmo inversa, fazem a obra avançar corajosamente até o desfecho escatológico. O diretor Mozart Freire não tem medo de ser contemporâneo.

Sem diálogos, Pop Ritual mostra relacionado entre padre e vampiro. (Imagem: Divulgação/Facebook)

As minhas expectativas para assistir ao curta-metragem baiano Necrópolis estavam altas. No final das contas, mesmo projetando um outro filme antes de vê-lo, consigo gostar da proposta intimista. O diretor Ítalo Oliveira faz de um exótico exemplar do gênero uma obra a respeito da mulher, em especial da negra, lésbica e brasileira dos dias de hoje.

O penúltimo curta-metragem a ser exibido, Oni, de Diogo Hayashi, foi realizado no interior paulista. É um filme despreocupado com o espectador. A obra tem um tempo muito próprio e evoca por meio de símbolos específicos o fardo das tradições culturais e raízes familiares. 

Por fim, rodado quase que completamente dentro de um apartamento, assistimos ao curta-metragem Cova Humana. O diretor Joel Caetano (Encosto) encontra na economia da produção um caminho animador para o cinema de horror brasileiro. As obras dele conciliam muito bem o carácter amador do dispositivo com a familiaridade das narrativas, as quais lembram lendas urbanas compartilhadas diariamente pelas ruas do país.

Lembramos que um desses oito curtas-metragens será premiado no domingo (18), antes da projeção do longa-metragem canadense Lifechanger. Na noite deste sábado (17), o festival promoverá a primeira exibição em Santa Catarina do filme A Mata Negra, do cineasta Rodrigo Aragão.

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