Cineclubistas preservam a história dos cinemas de Florianópolis

Uma parte da história dos cinemas de Florianópolis é preservada na memória de dois cinéfilos que fazem parte do cineclube Art 7, confraria que exibe filmes fora do circuito comercial a cerca de três décadas na ilha de Santa Catarina. Nos dias 13 e 16 deste mês, eu estive com Luis Claudio Fritzen e Sérgio Goulart, membros fundadores do grupo. Passeando pelas ruas do centro da cidade com eles, conversamos a respeito da trajetória do cineclube e visitamos os prédios onde funcionaram alguns dos mais antigos cinemas da Capital.

Fritzen e Goulart nasceram em Florianópolis e graduaram-se em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O primeiro faz parte da Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC) e ainda atua como advogado. O segundo trabalhou como jornalista, mas atualmente está aposentado devido aos anos de colaboração na Caixa Econômica Federal. Ambos compartilham da mesma paixão pelo cinema e pela prática do cineclubismo.

Segundo Goulart, a trajetória do cineclube Art 7 começa em 1986, quando o cinéfilo Darci Costa concretizou o sonho de abrir um cinema em Florianópolis. Naquela época, conforme explicou Fritzen, uma única família monopolizava as salas da Capital e detinha poder sobre a distribuição dos filmes. Apesar disso, Darci conseguiu adquirir películas asiáticas e europeias com outros distribuidores a fim de projetar em uma sala no prédio da prefeitura – estrutura que está localizada na rua Almirante Alvim, hoje sede da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. (Badesc).

Nessa sala, Fritzen assistiu seis vezes seguidas o longa-metragem Dersu Uzala, de Akira Kurosawa. "Eu achava que nunca mais teria a oportunidade de assistir aquele filme", comentou o advogado, quando eu perguntei qual a sessão e a obra que mais o marcou. Nos anos 1990, Darci teve que encerrar as atividades da sala de cinema. Foi então que o grupo de cinéfilos decidiu promover exibições gratuitas, dando início ao cineclube Art 7.

Os primeiros encontros da confraria, antes de ocuparem a sala de cinema da Fundação Cultural Badesc às quartas-feiras, ocorreram no último andar do prédio do BRDE (Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul), na avenida Hercílio Luz. Goulart recorda que uma assessora de Darci comprava bolos e refrigerantes para eles confraternizarem durantes os debates realizados depois das sessões, o que acarretou algumas reclamações referentes a falta de limpeza da sala no final das reuniões.

Memória Viva

Depois de encontrar Goulart por um acaso olhando DVDs na banca do Toninho, na tradicional feira do calçadão da Rua João Pinto, fui convidado por Fritzen para visitar os prédios onde funcionaram alguns dos cinemas mais antigos de Florianópolis. Era sábado (16) e fazia sol. Mas a proposta entusiasmada do cinéfilo foi irrecusável. Começamos pela Rua Padre Miguelinho, localizada ao lado da Catedral Metropolitana, onde existiam dois cinemas. Um deles era o São José, espaço que por muito tempo foi reservado para a elite florianopolitana, pois permitia somente a entrada de espectadores que trajavam terno. Na frente do São José, havia um cinema anexo à catedral, o qual exibiu por muitos anos filmes de baixo orçamento e pornochanchadas.

Luis Claudio Fritzen na frente do prédio onde funcionava o Cine Ritz, visível em registro exibido na tela do celular. (Foto: Ezequiel Silva)

No outro lado da Catedral Metropolitana, na Rua Arcipreste Paiva, existiam outros dois cinemas. O espaço no qual funcionava o Cine Ritz agora pertence a uma instituição de ensino. E o edifico em que operava o Cine Cecomtur virou um hotel. Fritzen ainda contou que o imóvel do Teatro Álvaro de Carvalho, na Praça Pereira Oliveira, foi construído originalmente para servir como cinema. Inclusive a atual fachada da estrutura não existia, uma vez que a entrada e a bilheteria estavam posicionadas na parte lateral do prédio.

Paixão

O cinema é indissociável da vida de Fritzen e Goulart. Nas duas oportunidades que estive ao lado deles, dois terços do tempo foi dedicado para conversamos sobre obras, figuras e curiosidades da sétima arte. Fritzen coleciona selos, mas não costuma dizer que coleciona DVDs e Blu-Rays, isso porque ele "usufrui" dos milhares filmes em mídia física que tem em casa. A respeito dessa paixão, Goulart compartilhou comigo uma citação a qual ele não recorda o autor, mas guarda com carinho: "A televisão é menor que a vida. O teatro é do tamanho da vida. O cinema é maior que a vida".

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