Os Mortos Não Morrem (2019) – Somos todos zumbis

O mais novo filme do cineasta Jim Jarmusch, um dos mais autênticos realizadores do cinema estadunidense, será exibido nesta terça-feira (29) no Auditório Ovelha do Centro de Convivência da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A sessão do longa-metragem Os Mortos Não Morrem faz parte da mostra DéJarmusch, organizada pelo Cineclube Rogério Sganzerla, a qual pretende projetar nas próximas terças de novembro outras obras do diretor. O evento, aberto ao público, começa às 19h.

Bill Murray e Adam Driver interpretam, respectivamente, Cliff e Ronald. (Imagem: Reprodução)

A premissa de Os Mortos Não Morrem é simples: zumbis saem das tumbas e são atraídos pelas coisas que faziam quando eram vivos. Antes disso, nos primeiros minutos, conhecemos a pequena cidade de Centerville e o diversificado leque de personagens (interpretados por estrelas como Tilda Swinton, Steve Buscemi e Selena Gomez) que vivem nesse lugar pacato. Por meio de uma investigação conduzida pelos policiais Cliff (Bill Murray) e Ronald (Adam Driver), descobriremos a possível causa dos mortos estarem vivos, mas essa explicação pouco importa para o filme de Jim Jarmusch. Isso porque ele ocupa-se mesmo em explorar o comportamento dos zumbis.

Os mortos-vivos até se alimentam de carne humana, mas também correm atrás de coisas como espumante Chardonnay, bluetooth, Wi-Fi e Xanax. Essa característica tão especifica dos zumbis de Jim Jarmusch estabelece um cenário propício para momentos estranhamente humorados. Mas, acima de tudo, evidencia o caráter crítico do longa-metragem no que diz respeito ao costumes da sociedade contemporânea. Afinal de contas, considerando esses vícios tão mundanos, é inegável que temos algo em comum com as criaturas que se arrastam na tela.

Zumbis seguram celulares. (Imagem: Reprodução)

A respeito da encenação, Jarmusch emprega um distanciamento da narrativa para amenizar a ostensiva questão de Os Mortos Não Morrem. As personagens atravessam os espaços fílmicos de maneira anêmica, quase como se não percebessem a gravidade da situação; quase como se eles fossem zumbis. É um trabalho que concilia razoavelmente bem essa dramaturgia apática com a cena propriamente dita. No entanto, essa construção é ofuscada aos poucos por algumas escolhas narrativas duvidosas.

Muitos colegas sustentam que os problemas advêm de uma suposta pretensão do cineasta. Eu me pergunto se um diretor como o Jarmusch ainda se preocupa em chamar atenção desse jeito. Prefiro acreditar que não. Entretanto, é difícil ignorar a desmedia autoconsciência de um determinado personagem, bem como o desfecho aleatório – ainda que faça sentido, tendo em vista a própria tomada de consciência da obra.

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