O Segredo do Bosque dos Sonhos (1972) – Violência e opressão

O Cineclube Ó Lhó Lhó está promovendo uma mostra dedicado ao giallo, gênero cinematográfico italiano de horror. As sessões serão realizadas no decorrer deste mês, toda sexta-feira, às 18h, no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em Florianópolis. Nesta semana, dia 18, será projetado o longa-metragem O Segredo do Bosque dos Sonhos, de Lucio Fulci. Lançado em 1972, o filme utiliza da violência gráfica para tratar das opressões de um determinado corpo social.

(Imagem: Reprodução)

A trama se passa em uma pequena comunidade rural na Sicília, lugar habitado por famílias conservadoras e crianças travessas, apesar de serem doutrinadas pelo jovem padre da igreja local. Acontece que uma onda de assassinatos de crianças espalha pânico na população, que por sua vez fica revoltada com os crimes e decide fazer justiça com as próprias mãos. O fanatismo religioso dos cristãos da aldeia transformam uma praticante de magia da região (Maciara, interpretada pela atriz brasileira Florinda Bolkan) na principal suspeita de ter cometido as atrocidades. No entanto, um jornalista de Milão e uma curiosa ricaça decidem ir mais a fundo nas investigações.

Essa premissa traz muito sobre a ideia central do longa-metragem, a qual também é precisamente representada pelo título estadunidense do filme: Don't Torture a Duckling (traduzindo para o português, não torture um patinho). Em suma, O Segredo do Bosque dos Sonhos retrata como os elementos mais frágeis de uma sociedade são brutalmente oprimidos por forças maiores. Não me refiro apenas às crianças assassinadas, as quais parecem representar a juventude da época, mas também aos injustiçados pela fervorosa moral cristã dos aldeões.

(Imagem: Reprodução)

Como trata-se de um giallo, há muita violência gráfica no decorrer do longa-metragem. Entretanto, ela é empregada justamente para reforçar a questão central da obra. Em nenhum momento o recurso é utilizado de forma gratuita. Se as mortes das crianças são chocantes, a sequência a qual três homens da comunidade cercam uma suspeita no cemitério é desagradavelmente tocante. Isso porque Lucio Fulci consegue convergir toda a crítica ao modus operandi equivocado dos aldeões nessa cena, a qual alia imagem e música como poucas.

Narrativamente rocambolesco, O Segredo do Bosque dos Sonhos estabelece uma sequência de pistas falsas e potenciais suspeitos que mantêm a tensão até o surpreendente desfecho. Além disso, o filme apresenta uma plasticidade memorável, sobretudo no que tange as tomadas nas locações rurais. É um legítimo giallo, uma ótima porta de entrada para o espectador que pretende conhecer mais a respeito do gênero.

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