A Mata Negra (2018) – Onde a ingenuidade não tem vez

O Floripa Que Horror promoveu a primeira exibição do filme A Mata Negra, de Rodrigo Aragão, nos cinemas catarinenses. A sessão ocorreu ontem à noite (17), no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis. Um documentário com depoimentos dos diretores Petter Baiestorf e Gurcius Gewdner, conhecidos por realizarem filmes com pouco dinheiro e nenhum pudor, foi mostrado antes da projeção do longa-metragem. Com isso, a tônica do terceiro dia de festival foi posta.

Carol Aragão interpreta a personagem Clara. (Imagem: Reprodução/Youtube)

Na elaboração deste texto, não pude deixar de notar que A Mata Negra tem apenas 1h38min de duração. Digo isso um tanto quanto surpreso, pois a impressão ao sair do cinema era de que o filme fosse mais longo. Em um segundo momento eu busco diagnosticar tal efeito, agora, é preciso simplificar o enredo: no meio da Mata Atlântica, a jovem Clara vive em paz com o pai adotivo até encontrar um livro de feitiços, o qual arrasta a garota para uma espiral de eventos macabros.

Dizer que Rodrigo Aragão tem conhecimento das convenções do gênero não me parece novidade para ninguém. A escolha de centralizar o filme em uma personagem feminina – interpretada pela própria filha, Carol Aragão – demonstra mais do que essa consciência, manifesta o esforço de manter viva toda uma tradição do horror no cinema. Isso também implica no que eu considero ser o tema central da obra: a ingenuidade, outro elemento intrínseco dos filmes de terror.

Plasticidade de "A Mata Negra" contempla bioma de floresta tropical. (Imagem: Reprodução/Youtube)

A ingenuidade da protagonista de A Mata Negra acarreta consequências terríveis, as quais lembram Resident Evil 5: Retribuição, de Paul W. S. Anderson – como bem recordou um colega no final da sessão. Essa inocência da personagem movimenta o filme do início ao fim: começando pelo fato dela julgar piamente que está atrapalhando o pai adotivo; passando pela crença na realização dos sonhos ao lado do namorado; e, mais gravemente, por não perceber que está piorando as coisas ao usar o livro de feitiços com frequência.

O problema de A Mata Negra – que talvez transcorra da própria bagagem cinematográfica de Aragão – está relacionado com aquela minha impressão dele ser excessivamente longo. Acontece que a jornada de Clara é carregada de idas e vindas, as quais não apresentam uma unidade muito objetiva. Fico com a sensação de assistir dois filmes dentro de um, sendo o primeiro sublinhado por um líder religioso – interpretado pelo grande Jackson Antunes – e o segundo marcado pelo nascimento de um "bebê-diabo" – passagem muita divertida, aliás.

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