Melhores filmes do Oscar 2018


No último domingo, 4, ocorreu a 90ª edição do Oscar e o Falando Cinema não poderia deixar de comentar a respeito dos filmes indicados na categoria principal. Ano passado havíamos publicado os comentários antes da entrega dos prêmios, hoje, apresentaremos as nossas considerações depois do anúncio dos vencedores. Sem mais delongas, vamos às nove produções que concorreram ao Oscar de Melhor Filme.

Começaremos por Me Chame Pelo Seu Nome que, na opinião do redator que aqui escreve, deveria ser o grande vencedor da noite. O italiano Luca Guadagnino demonstrou muita maturidade e elegância na direção. Com o apoio do fotógrafo Sayombhu Mukdeeprom, ele compõe uma atmosfera envolvente de repouso que permeia os belos planos e sequências do longa-metragem. Uma pena não terem indicado Guadagnino e Mukdeeprom nas categorias técnicas. Por outro lado, fico contente com a vitória de James Ivory, a qual proporcionou um dos melhores momentos da cerimônia. O texto adaptado pelo roteirista de 89 anos consegue ser, assim como os personagens daquela história, à frente do tempo. Não menos importante, chamo atenção para a performance inesquecível de Timothée Chalamet e Armie Hammer, que por sua vez estabeleceu uma figura curiosamente voraz e sedutora. Em suma, é uma preciosa e apaixonante obra que aborda as incertezas da adolescência de maneira orgânica.

Outro título que poderia muito bem ficar com os prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor é Trama Fantasma, escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson. Com certeza é o trabalho mais maduro do cineasta, que dispensa qualquer elemento político-social da diegese para explorar profundamente o psicológico das personagens. Nessa perspectiva, ambientar grande parte da narrativa em locais fechados foi uma escolha astuciosa de Anderson. Talvez o cinema desse californiano seja mesmo excessivamente rígido e perfeito, conforme apontam alguns críticos. Se isso é uma virtude, ou se é um defeito, só o futuro dirá. Porém, não podemos ignorar o fato de que, entre os cineastas norte-americanos, ele é um dos mais interessantes.

Corra! foi um acontecimento. Ano passado impressionou milhões de espectadores nos cinemas que, de "boca a boca", fizeram dessa pequena produção um sucesso milionário de bilheteria. Pelo visto o êxito continua, afinal, quem diria que uma simbiose dos gêneros terror e comédia chegaria no Oscar? Acho que nem o realizador Jordan Peele esperava conquistar um prêmio expressivo, como o Oscar de Melhor Roteiro Original, com uma obra tão ácida. Depois de ganhar a merecida estatueta, Peele dedicou a vitória para todos aqueles que deixaram o filme, entre aspas minhas, "acontecer". Creio que nós assistimos o nascimento de um potencial clássico que continuará impressionando muitos cinéfilos nos próximos anos.


De forma análoga, Três Anúncios Para um Crime aposta na mistura de tons para refletir a respeito das diferentes reações provocadas pelo ódio e a violência. O roteiro de Martin McDonagh toca em feridas e aborda temas curiosos, mesmo que de modo ligeiro e superficial. Parece-me que o roteirista, que também dirige o longa-metragem, quer abraçar um microcosmo complicado e grande demais para os braços. Apesar de gostar dos personagens e das atuações memoráveis de Frances McDormand e Sam Rockwell, ainda estou incerto quanto ao atrapalhado tom tragicômico do filme.

Confesso que fiquei feliz ao ver Greta Gerwig contemplada com duas indicações pelo seu empenho na direção e roteirização de Lady Bird: A Hora de Voar. Especialmente por se tratar de um projeto pessoal, quase biográfico. Quem sabe a maior virtude do filme seja o desapego, pois Greta não investe nas cenas potencialmente emocionantes e dramáticas, dessa forma escapa da pieguice ou do exagero e compõe uma obra dramaturgicamente honesta. Está longe de ser uma obra-prima, mas pelo menos consegue revelar a promissora cineasta dentro da atriz.

O vencedor nas categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor, A Forma da Água, decepcionou-me um pouco. No entanto, consigo compreender o carinho e a escolha da Academia pela nova obra de Guillermo del Toro. Tentando entender a minha indiferença com os filmes do cineasta, deparei-me com uma crítica e a seguinte sentença de José Geraldo Couto: "Del Toro, em contraste, se leva a sério demais". Devo concordar com o comentário do crítico, pois talvez seja essa sisudez que me distancie de outros trabalhos do diretor, como O Labirinto do Fauno. Mesmo apresentando uma fábula bem encenada e encantadora do ponto de vista estético, não consigo envolver-me emocionalmente com os personagens rigorosamente bem desenhados e delimitados.


Por último, deixei as três produções mais fracas. Começo por The Post: A Guerra Secreta. Steven Spielberg sabe como entregar aquele bom cinema comercial que, geralmente, termina com uma nota alta e agradável ao público. The Post cumpre isso com um final que lembra o desfecho dos atuais filmes de super-heróis. Obviamente não assistimos pessoas fantasiados e super poderosas, apenas uma representação cartunesca de Richard Nixon, que cumpre bem o papel de vilão.

Eu adoraria assistir uma versão de Dunkirk do Christopher Nolan ambientada exclusivamente à beira-mar. Aquele plano dos panfletos caindo sobre os soldados britânicos que caminham pelas ruas vazias de Dunquerque momentos antes de serem alvejados é belíssimo. Infelizmente os caprichos narrativos do diretor desprendem o espectador do drama, ainda assim ele consegue entregar o seu melhor filme desde Batman - O Cavaleiro das Trevas. Tecnicamente está impecável.

O Destino de Uma Nação também está visualmente bem-acabado. Gosto da cinematografia que aposta no contraste de luz e sombra, bem como de alguns planos e sequências. O design de produção e figurinos são ótimos, como era de se esperar. Falando em imagem, Gary Oldman está irreconhecível no papel de Winston Churchill, mesmo carregado de próteses e maquiagem a presença do ator se sobressaí. O que mais incomoda-me no filme é o péssimo desenvolvimento da personagem interpretada pela Lily James.

Considerações finais 

Além dos títulos indicados na categoria de Melhor Filme, eu gostaria de comentar um pouco sobre outros acontecimentos da 90ª edição do Oscar. A começar pelo fato de convidarem Warren Beatty e Faye Dunaway para apresentarem o vencedor do prêmio principal novamente. Depois daquele episódio na última edição, nada mais justo do que honrá-los uma segunda vez. Acredito que o pedido de desculpas da Academia foi aceito.

Ainda quero fazer uma observação sobre a categoria de Melhor Roteiro Original, que na minha opinião está cada vez mais interessante. Nos últimos anos figuraram entre os indicados textos bem originais, verdadeiros pontos fora da curva do cinema comercial, tais qual: NebraskaO Abutre; Ex-Machina; Straight Outta Compton; O Lagosta; entre outros. Em 2018, por exemplo, uma das melhores comédias românticas dos últimos anos, Doentes de Amor, estava concorrendo ao prêmio.

No mais, acho que Blade Runner 2049 poderia ser a décima produção indicada para o Oscar de Melhor Filme, mas foi lamentavelmente esnobado. Ao menos saiu com os prêmios de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Fotografia.

Estendi demais essa publicação. Espero que vocês tenham apreciado minhas curtas e vagas observações. Fiquem à vontade para comentarem quais entre os filmes indicados são os seus favoritos. Até a próxima!

Comentários

  1. Adoreí filmes de comédia é definitivamente meu gênero favorito. Mas eu recomendo Apenas o Começo é definitivamente um dos meus favoritos, o elenco formado por Morgan Freeman, Tommy Lee Jones, Rene Russo, Glenne Headly é espetacular. Eu considero isso um dos Melhores filmes de ação e comédia . Eu gosto muito deste tipo de filmes, eles sempre chamam minha atenção por causa da história muito divertida. Você não pode parar de vê-la.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Em frente, à vastidão

No que toca I Walked With a Zombie (1943) e Tabu (1931)

Gritos na trilha sonora