Melhores filmes de 2017

Antes de tudo, desejamos um feliz ano novo para todos os leitores do Falando Cinema. Começaremos o ano com a publicação da nossa segunda lista que, dessa vez, contemplará os melhores filmes de 2017. Todas as obras escolhidas foram lançadas comercialmente no Brasil ano passado. Selecionamos 10 títulos, que vocês poderão conferir abaixo, organizados de acordo com a data de lançamento no circuito brasileiro. Apesar de não utilizarmos as famigeradas "estrelinhas", comentamos cada um dos filmes destacados. Por último, vale lembrar que trata-se de uma lista pessoal do redator que aqui escreve.


Eu, Daniel Blake [I, Daniel Blake, 2016], de Ken Loach

O meu primeiro contato com a filmografia do cineasta octogenário Ken Loach também foi a primeira crítica publicada no Falando Cinema. A luta do carpinteiro Daniel contra um sistema burocrático que trata com desdém os menos favorecidos é narrada com discrição por Loach. O diretor privilegia as boas performances de Dave Johns e Hayley Squires que, quando contracenando, promovem algumas das cenas mais emocionantes do cinema em 2017. Mesmo não apresentando uma história grandiosa, Eu, Daniel Blake aborda temas importantes com simplicidade e envoltura. 


A Criada [Ah-ga-ssi, 2016], de Park Chan-wook 

Entre tantas outras virtudes, aquela que impulsionou Park Chan-wook ao reconhecimento internacional foi a capacidade de filmar a violência como poucos. Em seu mais novo filme ele vai além, mostrando que pode fazer o mesmo com o sexualidade. Chan-wook teria sido criticado por assumir uma postura sexista, se não fosse o olhar sensível com o qual registra as protagonistas. Quem sabe a maior virtude do sul-coreano seja mesmo a sensibilidade. Ademais, A Criada é uma produção irretocável narrativa e cinematograficamente que raramente se perderá na memória.


Silêncio [Silence, 2016], de Martin Scorsese 

Conversar sobre religião será para sempre uma tarefa delicada, acima de tudo nos dias de hoje. Não entendo o porquê de Silêncio ser esnobado por parte da crítica e pelo público. Afinal, Martin Scorsese dirigindo um filme "religioso" deveria despertar, no mínimo, curiosidade. Buscar compreender os motivos dele ser tão menosprezo revela, num primeiro momento, algumas de suas maiores grandezas. São duas horas e quarenta minutos difíceis, no melhor sentido possível, pois Scorsese possui invejável controle de sua mise-en-scène. O diretor ainda conta com o auxílio da fiel montadora Thelma Schoonmake e do fotógrafo Rodrigo Pietro para realizar uma obra de rigor histórico incomum no cinema contemporâneo.


O Ornitólogo [O Ornitólogo, 2016], de João Pedro Rodrigues

João Pedro Rodrigues filma esse ornitólogo, Fernando (interpretado por Paul Hamy), solitário à procura de aves raras. O personagem, cego pela ambiciosa pesquisa, perde o controle do caiaque ao ser puxado por uma forte correnteza. Em meio à natureza, o homem perderá o controle da própria realidade. No fim, Fernando se torna Antônio (João Pedro Rodrigues). O Ornitólogo pode lembrar o cinema de Apichatpong e até mesmo de Jodorowsky, mas na verdade é uma obra de beleza sem igual. A maneira como o diretor transita entre o real e o fantástico é impressionante.


Martírio [Martírio, 2016], de Vincent Carelli

Em vez de escolher o caminho fácil do didatismo, Martírio opta pelo exercício de apenas mostrar. Devo dizer que, na minha opinião, isso que é cinema. Vincent Carelli não apela para convenções documentais, visto que compõe uma obra-prima com modestos diários filmados de suas vivências com os indígenas. Mesmo assim o filme de Carelli consegue revoltar, esclarecer e emocionar. Obras como essa são determinantes para conscientização da sociedade brasileira acerca do extermínio da população indígena. Está, sim, entre os filmes brasileiros mais importantes dos últimos anos.


Corra! [Get Out, 2017], de Jordan Peele

Entre os diversos gêneros e subgêneros de filmes que surgiram no decorrer da história do cinema, terror e comédia devem ser os mais difíceis de trabalhar, sobretudo atualmente. Neste aspecto, Corra! merece entrar na lista dos melhores de 2017. O estreante Jordan Peele, roteirista e diretor do longa-metragem, constrói um suspense astuto em torno dos males da sociedade com doses certeiras de humor. O protagonista Daniel Kaluuya, dono de um olhar marcante, guia o espectador para esse inesquecível terror à luz do dia. No fim, lembra o que poderia muito bem ser uma paródia de Adivinhe Quem Vem Para Jantar realizada pelo Sam Raimi.


Z - A Cidade Perdida [The Lost City of Z, 2016], de James Gray

O pretensioso projeto de James Gray está longe do brilhantismo de obras menores como Fuga para Odessa e Amantes. Porém, Z - A Cidade Perdida não deixa de ser uma ótima peça na filmografia desse cineasta que dificilmente falha. Escrevi sobre essa estonteante aventura realizada por Gray no blog, clique aqui para conferir a crítica completa.


Frantz [Frantz, 2016], de François Ozon

Um belíssimo retrato, considerando o formidável trabalho do diretor de fotografia Pascal Marti, das fragilidades humanas. Em Frantz, François Ozon explora os danos psicológicos causados pela guerra e registra uma sociedade em tons de cinza. As verdades ocultas, o medo do futuro, as obrigações sociais e a paixão irrefreável são temas discutidos ao longo do melodrama. Gosto da narrativa que brinca com o espectador, armando uma série de hipóteses a respeito do jovem Adrien. Além de ser a melhor surpresa que tive no cinema em 2017, ressalto a presença iluminada de Paula Beer.


Nocturama [Nocturama, 2016], de Bertrand Bonello

Por vezes, sonho que estou escondendo-me da polícia depois de cometer um crime de terrorismo. Um sonho absurdo, ou, melhor dizendo, um pesadelo absurdo. O desfecho de Nocturama conseguiu me transportar para esse pesadelo que há tempos assola as minhas noites de sono. O trabalho de direção e montagem do francês Bertrand Bonello é fascinante. Ele consegue compor duas metades para o longa-metragem, completamente diferentes no que diz respeito ao ritmo e clima, de uma forma genuinamente harmoniosa.


Na Praia à Noite Sozinha [Bamui haebyun-eoseo honja, 2017], Hong Sang-soo

Neste momento, se existem cineastas fazendo o legítimo cinema de auteur (assim mesmo, com aquela palavra utilizada pelos franceses da Cahiers du Cinema), Hong Sang-soo está na linha de frente. Na Praia à Noite Sozinha, diferente do caloroso Certo Agora, Errado Antes, levou algumas semanas para amadurecer e conquistar a minha admiração. Observamos alguns encontros banais e o cotidiano da protagonista Younghee, interpretada pela ótima atriz Kim Min-hee (de A Criada), num tour de force impressionante. O melhor do cinema de Sang-soo encontra-se na enigmática mistura entre realidade e ficção, encenação e improviso. Me arrisco a dizer que deixaria André Bazin muito contente.

Finalmente, depois de pré-selecionar 18 títulos, consegui destacar os mais marcantes de 2017. Curioso que oito desses filmes foram lançados em 2016, mas só estrearam no Brasil ano passado. Seis deles (os dirigidos por Loach, Rodrigues, Carelli, Peele, Ozon e Bonello), apresentaram-me filmografias inéditas. Além das descobertas, pude reafirmar o meu carinho pelo cinema sul-coreano e por cineastas como Scorsese e Gray. Enfim, gostaríamos de saber: quais são os melhores filmes que vocês assistiram em 2017? Fiquem à vontade para interagir nos comentários.

Comentários

  1. Muito deliciosa esta lista!! Apreciando cada byte.

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  2. Z- A cidade perdida também foi um dos filme que eu mais gostei o ano passado. Mais que filme de ação, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Esse Charlie Hunnam novo filme foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos innovadores. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. É uma historia que vale a pena ver.

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    1. É um filme bem envolvente mesmo. Não conheço essa versão do Rei Arthur dirigida pelo Guy Ritchie, vou guardar a sua recomendação. Obrigado pelo comentário!

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