Nasce a Nova Hollywood
É
trabalhoso sintetizar a Nova Hollywood, movimento cinematográfico
que transformou o cinema estadunidense na década de 1970. Assim como é
complicado apontar um início para ele, visto que até hoje, pesquisadores
discutem quando esse movimento nasceu. No entanto, mais do que apontar um exato
momento para o surgimento da onda,
precisamos entender como ela ergue-se. Pensando nisso, compreenderemos um pouco
do processo que levou ao nascimento dessa revolução.
No decorrer dos anos de 1960, a
indústria de Hollywood passava por um período de turbulência. Eles estavam
investindo em produções milionárias, como o desastroso Cleópatra de 1963, que não conseguiam trazer
lucro aos grandes estúdios. Enquanto isso acontecia, os filmes europeus
ganhavam cada vez mais popularidade nas salas de cinema estadunidenses,
principalmente as realizações francesas de cineastas como François Truffaut e
Jean-Luc Godard, fundadores da Nouvelle Vague.
Os estúdios não captaram que o
mundo estava mudando e, consequentemente, o público também. Cansados do
ultrapassado e engessado formato dos filmes hollywoodianos, as pessoas
procuravam por obras que dialogassem com temas político-sociais em voga na
época, como por exemplo: contracultura, pacifismo e igualdade racial. Agora,
podemos perceber o porquê dos espectadores estimarem tanto os filmes europeus.
No velho continente, o cinema estava sendo movido por uma inventividade/genialidade juvenil, de fato, algo muito mais atraente que as
produções norte-americanas cada vez mais longas, suntuosas e mofadas.
Porém, era só uma questão de tempo
para Hollywood adaptar-se e, nesse processo de adaptação, indícios da Nova Hollywood começam a surgir, mais ou menos no
final dos anos de 1960. Como antes mencionado, diversos pesquisadores continuam
debatendo sobre o marco inicial do movimento, constituindo um leque de teorias.
Nesse artigo, observamos a tese do jornalista Mark Harris, apresentada no livro Cenas de uma revolução: o nascimento da nova Hollywood.
Para Mark, as mudanças no cinema
hollywoodiano têm início no ano de 1967 e estão relacionadas com cinco
produções: Bonnie e Clyde, A primeira noite de um homem, O fantástico doutor Dolittle, Adivinhe quem vem para jantar e No
calor da noite. Por meio de uma profunda pesquisa, o jornalista conta a
história de como esses filmes foram escritos, produzidos e recebidos pelo
público. Dessa forma, após traçar um panorama do cenário cultural da época, ele
ilustra para nós, leitores, o impacto desse novo
cinema e como ele renovou o
mercado norte-americano.
Os cinco filmes contemplados por
Harris concorreram a estatueta de Melhor Filme na 40ª cerimônia do Oscar, em 1968.
Sem dúvidas, Bonnie e Clyde e A
primeira noite de um homem eram
os grandes exemplares da ainda adolescente Nova
Hollywood. O primeiro filme foi produzido pelo ator Warren Beatty e teve o
roteiro escrito pelos jornalistas David Newman e Robert Benton, entusiastas
da Nouvelle Vague. O
segundo filme, uma produção independente que não se encaixava em nenhum gênero
(comédia, drama), era protagonizado pelo até então desconhecido Dustin Hoffman,
antítese do galã hollywoodiano. Elas foram, certamente, obras refrescantes e
modernas que fugiram do status
quo daquele tempo.
Cenas de uma revolução não
sugere um marco específico para adotarmos como início da Nova Hollywood,
pelo contrário, o livro apresenta o complexo processo de renovação de uma
indústria que estava em decadência. Após conferir o texto, prefiro adotar esse
complexo processo como marco inicial do movimento ao invés de escolher um único
filme. Contudo, gostamos de criar novos messias, não é mesmo? Nesse caso,
concordo com aqueles que assumem o alucinógeno Sem Destino, de 1969, como pilar
dessa nova forma de fazer cinema. Afinal, ele foi às ruas, trouxe a essência da
contracultura para as telas, distorceu a narrativa clássica e conseguiu fazer
dinheiro.
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