Postagens

Acerca de A Marca da Forca (1968)

Imagem
A Marca da Forca ( Hang ‘Em High , 1968) pode não ser um filme tão bem resolvido — o que passa tanto pela direção de Ted Post quanto pelo trabalho dos roteiristas Leonard Freeman e Mel Goldberg, que, até onde pude ver, não tiveram uma carreira expressiva em Hollywood. Todavia, também por se tratar de um dos primeiros, senão o primeiro, faroeste protagonizado por Clint Eastwood depois da experiência na Itália com a célebre trilogia de faroestes espaguetes de Sergio Leone, algumas questões a respeito do gênero e da persona construída por Eastwood impõem-se no relevo desse campo ainda tão arredio. Eu estava comentando com um amigo, dias atrás, como a obra de Clint enquanto diretor gira em torno das sombras. A estética não explora tão somente o contraste expressionista dos cenários, como também as veias do rosto embrutecido pelo tempo, suscitando assim a carga e o peso dramático acumulados ao longo dos anos como ator — muitas vezes, e talvez mais intensamente, em seus próprios projetos¹....

Cineclube Sganzerla apresenta: Não Mais Haveremos de Suportar

Imagem
O  Cineclube Sganzerla  apresentará entre os dias 1º e 8 de junho o ciclo Não Mais Haveremos de Suportar , o qual coloca em perspectiva o conceito de gnose com cinematografias de cineastas como Christopher Maclaine, Jack Chambers, Robert Aldrich e Stan Brakhage.  Os encontros virtuais serão realizados via Google Meet nos domingos dias 1º e 8, a partir das 16h.  Clique aqui e inscreva-se para participar . Leia abaixo o texto de apresentação da curadoria: Por Giovanni Silveira. A gnose, neste contexto, é compreendida a partir de um recorte específico: a realidade permanece como uma prisão — frágil e imperfeita — e, para excedê-la, é necessário buscar uma certa luz. Os bilhões de átomos que constituem a percepção e a matéria já não correspondem plenamente aos significados que lhes são atribuídos pela linguagem. Eles excedem os limites da consciência que temos deles e são feitos de armadilhas. A esses filmes cabe, portanto, aceitar, buscar ou recusar a centelha de ...

Cineclube Sganzerla apresenta: Quem te fala é uma morta

Imagem
Vídeo por Marcos Carvalho. O  Cineclube Sganzerla  apresentará entre os dias 20 e 27 de abril um ciclo de filmes com o propósito de revisitar diferentes i maginários cinematográficos sobre fantasmas . As figuras reunidas no programa   Quem te fala é uma morta  habitam obras que compartilham do mesmo  registro melodramático marcado por amores insuperáveis e crimes irresolutos.  Os encontros virtuais serão realizados via Google Meet nos domingos dias 20 e 27, a partir das 16h.  Clique aqui e inscreva-se para participar . Leia abaixo o texto de apresentação da curadoria: Quem te fala é uma morta Por Luiz Brasil. “Herculano, quem te fala é uma morta. Eu morri. Me matei”, assim se apresenta Geni ao seu esposo e aos espectadores, através de uma gravação de voz. A partir desta voz fantasmagórica seremos apresentados a trama de Toda Nudez Será Castigada (1965) de Nelson Rodrigues, que nos revelará o motivo de seu suicídio. Para o dramaturgo carioca o tema não ...

Cineclube Sganzerla apresenta: Cinema. Trabalho.

Imagem
  Vídeo por Marcos Carvalho. O Cineclube Sganzerla apresentará entre os dias 9 e 23 de março um ciclo de filmes a propósito da relação entre o cinema e o trabalho. A programação, intitulada Cinema. Trabalho. , coloca em perspectiva obras de cineastas como John Ford, Peter Nestler, Vittorio De Seta, Pedro Costa,  Jean-Marie Straub e Danièle Huillet. Os encontros virtuais serão realizados via Google Meet nos domingos dias 9 e 23, a partir das 16h. Clique aqui e inscreva-se para participar . Leia abaixo o texto de apresentação da curadoria: Cinema. Trabalho. Por Ezequiel Silva. Da saída um tanto quanto mecânica dos operários da fábrica Lumière, registrada pelo cinematógrafo dos pioneiros Auguste e Louis, passando pelas greves e pelos motins arquitetados por Eisenstein, os quais transformaram a práxis cinematográfica soviética em uma verdadeira escola de montagem, chegaríamos à conclusão de que o trabalho sempre animou o cinema? Não poderia ser diferente, tratando-se da expressão...

PREMINGER (Otto)

Imagem
Por Jean Wagner. Isso foi na época em que Preminger ainda não estava envolvido com as grandes máquinas: ele realizou filmes que passaram praticamente despercebidos e a produção americana não daria muita importância a esse diretor que, infelizmente, sabia o que queria. Se pelo menos Preminger tivesse continuado a ser o homem sensível de O Rio das Almas Perdidas . Se ele pudesse conservar aquele senso de vibração que ainda encontramos intacto em Exodus , mas que, depois disso, desapareceu completamente. A fascinação premingeriana que foi a fonte de tantos elogios jamais foi tão evidente quanto nessas crônicas agridoces, nessas longas e lentas marchas de um homem para uma mulher ou de uma mulher para um homem, Laura , Alma em Pânico , O Rio das Almas Perdidas , Bom dia, tristeza . O Rio das Almas Perdidas é a maravilhosa combinação química de Robert Mitchum, Marilyn Monroe e o rio que não cessa de ritmar esse romance aveludado. O rio que, na época, assumiu uma nova dimensão graças ao for...

A nostalgia da epopeia

Imagem
Por Bernard Dort. Muitas vezes falamos sobre épico e epopeia quando se trata de western . Isto nos proporciona um equivalente moderno aos romances de cavalaria, ou mesmo das canções de gestos. O seu herói, “o caubói deslumbrante do século XX”, seria a réplica exata do “valente cavaleiro do século XIII” [1]. E suas aventuras nada mais seriam do que uma “busca”. Assim, em última análise, seria a presença do “sagrado” que explicaria o prazer que sentimos pelos westerns , o fascínio que eles exercem sobre nós e a sua proliferação dos teatros de bairro aos cinemas de arte. É verdade que Tom Mix, Broncho Billy e Buffalo Bill podem ser vistos como avatares dos cavaleiros da Idade Média. Mas isto dificilmente os define: têm este estatuto em comum com Tarzan, Maciste ou Hércules (apesar de “antigos”, este último foi, no entanto, fortemente cristianizado). E é apenas através de um abuso de linguagem que podemos falar de uma busca pelo herói westerniano. Na verdade, com exceção de alguns produtos...

Cineasta interpretado

Imagem
 Por Rogério Sganzerla. Alguns anos depois de sua morte, o diretor Kenji Mizoguchi tornou-se na Europa um fenômeno tão discutido como Bergman ou Antonioni. Entusiasmou especialmente os críticos franceses: por seu estilo poético e realista, que lembra o impressionismo de um Renoir ou Bresson; por seu amor por Maupassant e Balzac (“ qui ont volu mettre au couer de leur ouvre l’homme réel tout entier ”); pela técnica moderna de cenas longas; por uma limpidez que lembra Murnau e Von Stroheim. E sobretudo por adotar um recuo diante da realidade, por “uma certa distância da câmera…” (segundo M. Mesnil o cineasta substitui uma câmera-testemunho por uma câmera engajada com a intriga, quase inquisitorial). Define-se Mizoguchi como “um observador do mundo físico e humano” – de olho natural e distante do mundo; e este seria o segredo de sua força crítica. Não há, em seus filmes, enquadramentos insólitos que chamassem a atenção, que violentam a realidade. Ele não tentou “ tricher avec la reali...